Brasil. Cheias causaram já 101 mortos e 78 mil desalojados
Autoridades alertam para o perigo de novas cheias e deslizamento de terras
"É muita água. Você não tem noção da quantidade de água que é." O desabafo é de um habitante de Camboriú que tem a sorte de viver afastado do rio Itajaí ou a sua casa teria o mesmo destino da dos vizinhos e estaria agora soterrada em lama. O mau tempo no estado de Santa Catarina já causou a morte a 101 pessoas (um número que deverá aumentar) e há mais de 78 mil desalojados. Ontem, com o nível do rio a baixar, as autoridades brasileiras conseguiram começar a distribuir alimentos, água potável e medicamentos por terra a oito municípios até agora isolados.
"Antes só podíamos chegar com a ajuda de helicóptero, agora estamos deslocando os camiões para essas cidades com os mantimentos que as pessoas estão necessitando", disse à agência Reuters o chefe de operações da Defesa Civil de Santa Catarina, Edemilson Irineu Corrêa. "A situação continua perigosa mesmo quando parar a chuva, porque o solo está bastante encharcado e pode desmoronar. São quase três meses de chuva", acrescentou.
Além das verbas destacadas pelo Presidente Lula da Silva (cerca de 700 milhões de euros), o estado de Santa Catarina conta também com o apoio de empresas e populares. Até quarta-feira à noite, já tinham sido depositados em quatro contas bancárias de ajuda mais de 1,2 milhões de reais (cerca de 420 milhões de euros). Como noutras situações, há sempre quem procure aproveitar-se da desgraça dos outros e as autoridades alertaram para a existência de e--mails com números de contas falsas.
Os serviços de meteorologia prevêem mais chuva forte nos próximos dias, em especial na região do Vale do Itajaí, uma das mais atingidas pelas cheias da última semana. Temendo que se repitam noutros estados os cenários que se verificam em Santa Catarina, as autoridades alertam para o mau tempo que se prevê para Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul e recomendam "atenção especial e redobrada" nas encostas e morros, onde "o solo está bastante encharcado, o que aumenta o risco de deslizamentos".
Cenário de guerra
"Andar na cidade é desolador. Você tem a impressão de que está em um campo de guerra. É helicóptero do Exército e da polícia, sobrevoando o tempo todo. É lama para todos os lados. Estamos bastante assustados. Uma situação horrível, só quem está na cidade pode ter noção", disse Vânia dos Santos, moradora em Blumenau, ao jornal O Globo. Só nesta cidade morreram 21 pessoas devido às cheias e ao deslizamento de terra.
Em Rodeio, a tragédia atingiu a família de Dário Sálvio Eccel, relatava ontem o jornal A Folha de São Paulo. Descendente de italianos, tinha-se instalado em Santa Catarina, onde abriu com a mulher uma fábrica de queijos artesanais. Na segunda-feira, a água invadiu o sobrado em estilo colonial em que o casal vivia com os quatro filhos. Só duas das crianças, de 13 e cinco anos, sobreviveram.
Aqueles que tiveram a sorte de escapar à força das águas amontoam-se nos abrigos provisórios, à mercê das doenças como a leptospirose e a diarreia . "Ele bebeu água da chuva. Não tinha nada para dar a eles", disse ao Globo Debora Henrique, grávida de seis meses e com três crianças para sustentar. No abrigo de Itajaí não tem assistência médica.
Fonte: Diario de noticias online