Os bispos portugueses vão abordar, na próxima reunião plenária da Conferência Episcopal, a questão do uso do preservativo. O assunto não faz parte da agenda, mas, atendendo à polémica dos últimos dias e "à necessidade de clarificar a posição da Igreja sobre o assunto", o tema, sabe o CM, vai estar em cima da mesa.
O assunto é delicado e as declarações dos homens da Igreja não têm sido, pelo menos aparentemente, de total coincidência.
Depois de Bento XVI ter dito, a caminho de África, que o uso do preservativo não resolve e, pior do que isso, 'agrava o problema da sida', o bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, escreveu no passado dia 22 que 'em certas situações, como quando uma pessoa infectada não prescinde das relações, há obrigação moral de prevenção e o uso do preservativo é aconselhável e até eticamente obrigatório'.
Sobre as ideias de D. Ilídio caiu um silêncio que foi ontem quebrado por D. Manuel Clemente, bispo do Porto.
'Expedientes são expedientes, mas a grande solução para o problema da sida tem de ser comportamental e, portanto, não devemos confundir o que é um expediente e o que é a solução', explicou D. Manuel, colocando-se de acordo com o Papa e também com o bispo de Viseu.
O Cardeal-patriarca D. José Policarpo recusou comentar ao CM as declarações dos bispos do Porto e de Viseu. Mas na homilia quaresmal de ontem, na Sé de Lisboa, deixou um recado sobre a matéria: 'A Igreja não tem autoridade para mudar ao sabor das circunstâncias e a alteração dessa visão é ser infiel à sua missão'.