Sondagem CM/Aximage
Sócrates já não é absoluto
A popularidade do primeiro-ministro está em queda acentuada e as expectativas dos portugueses no seu Governo atingiram o ponto mais baixo desde que chegou ao Governo. O PS veio também por arrasto. De acordo com uma sondagem CM/Aximage, se as eleições fossem hoje, os socialistas arrecadariam apenas 35,2% dos votos. Seria o fim da maioria absoluta.
O estudo de opinião, realizado entre os dias 7 e 9 do corrente, reflecte o anúncio dos aumentos de preços dos principais bens e serviços, como, por exemplo, o pão, o leite, os transportes e a energia (praticamente tudo acima da inflação prevista para 2008, que é de 2,1%) durante o mês de Dezembro. Mês em que se agravou a polémica em torno do fecho das Urgências.
As iniciativas do Governo no final do ano de 2007, consideradas históricas pelo primeiro-ministro, como a assinatura do Tratado da União Europeia (13 de Dezembro), a Cimeira UE-África e o alargamento do Espaço Schengen, afinal não foram “porreiro, pá!”, pelo menos para os portugueses inquiridos na sondagem. Numa escala de 0 a 20, a nota de Sócrates foi de apenas 8, o valor mais baixo do último ano, e só registado em Outubro de 2005.
Nem o anúncio da previsão do défice abaixo dos 3% do PIB, que a confirmar-se será histórico, favoreceu José Sócrates. Tal poderá estar relacionado com o facto de os portugueses terem a noção de que o endireitar das contas públicas foi conseguido à custa da elevada carga fiscal.
Os portugueses não estão, pois, optimistas. Segundo a sondagem, as expectativas no Governo atingiram o valor mais baixo do ano: 56,7% dos inquiridos disse que o Governo está a governar pior do que esperava. De positivo para Sócrates, apenas a confiança para o cargo de primeiro-ministro em comparação com o líder do PSD. Contudo, Luís Filipe Menezes está a subir e José Sócrates a descer.
MENEZES SOBE NA CONFIANÇA
Segundo a sondagem CM/Aximage, os portugueses preferem claramente José Sócrates para o cargo de primeiro-ministro, o que quer dizer que o líder do PSD ainda não é uma alternativa. No entanto, embora tivesse caído 0,4 pontos na nota ‘avaliação dos líderes partidários’ (de 9,0 para 9,4 numa escala de 0 a 20) durante o mês de Dezembro, a verdade é que Luís Filipe Menezes está a subir na confiança dos portugueses para o cargo de primeiro-ministro, pois passou em apenas um mês de 25% para 27,5% (mais 2,5 pontos percentuais), enquanto José Sócrates desceu de 38,3% para 35,5% (2,8 pontos percentuais) no mesmo período.
AVALIAÇÃO DOS LÍDERES PARTIDÁRIOS (Notas de 0 a 20)
Francisco Louçã (BE): 11,3 (Setembro) / 11,1 (Outubro) / 10,9 (Novembro) / 10,5 (Dezembro) / 10,4 (Janeiro)
Jerónimo de Sousa (PCP): 10,1 (Setembro) / 10,3 (Outubro) / 9,9 (Novembro) / 9,4 (Dezembro) / 9,4(Janeiro)
Luís Filipe Menezes (PSD): 6,6 (Setembro, avaliação referente ao anterior líder do PSD, Marques Mendes) / 9,7 (Outubro) / 9,8 (Novembro) / 9,8 (Dezembro) / 9,4 (Janeiro)
José Sócrates (PS): 8,7 (Setembro) / 8,9 (Outubro) / 9,0 (Novembro) / 9,0 (Dezembro) / 8,0 (Janeiro)
Paulo Portas (CDS-PP): 6,5 (Setembro) / 6,7 (Outubro) / 7,2 (Novembro) / 7,4 (Dezembro) / 7,8 (Janeiro)
CONFIANÇA PARA PRIMEIRO-MINISTRO
Em qual dos dois líderes tem mais confiança?
José Sócrates: 38,9% (Dezembro 2207) / 35,5%(Janeiro 2008)
Luís Filipe Menezes: 25,0% (Dezembro 2207) / 27,5% (Janeiro 2008)
Nenhum/Igual: 21,0% (Dezembro 2207) / 23,2% (Janeiro 2008)
Sem opinião: 15,7% (Dezembro 2207) / 13,8% (Janeiro 2008)
A OPOSIÇÃO EM CONJUNTO JÁ SOMA 52 POR CENTO
Com excepção do BE, que perdeu 0,1 pontos percentuais, toda a oposição subiu nas intenções de voto. Em conjunto, os quatro partidos somam já 52,1% dos votos, contra 35,2%, do PS.
Apesar de Luís Filipe Menezes descer de 9,8 para 9,4 na nota de popularidade, o seu partido registou no último mês uma subida de 2,6 pontos percentuais, passando de 29,2% para 31,8%.
A CDU mantém-se firme como terceira força política, subindo 0,6 pontos percentuais na intenção de voto. Valor consistente com a popularidade do seu líder, Jerónimo de Sousa, que ficou com a nota de 9,4 valores (escala de 0 a 20). O BE revela algum desgaste, pois desceu de 6,7% para 6,6% nas intenções de voto. O seu líder, Francisco Louçã, está em queda há vários meses, mas continua a ser o mais popular.
O CDS começa a reanimar mas muito lentamente. O partido continua no fundo da tabela das intenções de voto e Paulo Portas mantém o último lugar na avaliação dos líderes, com 7,8 valores, apesar de estar a reforçar o seu capital de popularidade há três meses seguidos.
INTENÇÃO DE VOTO LEGISLATIVO
Abstenção: 40,3% (Janeiro 2007) / 39% (Fevereiro 2007) / 39,6% (Março 2007) / 41% (Abril 2007) / 41%(Maio 2007) / 45,2% (Junho 2007) / 47,1% (Julho) / 48,1% (Agosto 2007) / 47% (Setembro 2007) / 47,6% (Outubro 2007) / 45,4% (Novembro 2007) / 44,4% (Dezembro 2007) / 43,4% (Janeiro 2008)
PS: 38,9% (Janeiro 2007) / 39% (Fevereiro 2007) / 37,4% (Março 2007) / 35,7% (Abril 2007) / 36,7% (Maio 2007) / 38,5% (Junho 2007) / 40,4% (Julho) / 38,5% (Agosto 2007) / 34,6% (Setembro 2007) / 34,8% (Outubro 2007) / 36,1% (Novembro 2007) / 37% (Dezembro 2007) / 35,2% (Janeiro 2008)
PSD: 28,4% (Janeiro 2007) / 29,4% (Fevereiro 2007) / 31,2% (Março 2007) / 30% (Abril 2007) / 26,7% (Maio 2007) / 26,2% (Junho 2007) / 26,9% (Julho) / 28,2% (Agosto 2007) / 28,3% (Setembro 2007) / 27,3% (Outubro 2007) / 27,8% (Novembro 2007) / 29,2% (Dezembro 2007) / 31,8% (Janeiro 2008)
EXPECTATIVAS NO GOVERNO DE JOSÉ SÓCRATES: JANEIRO DE 2008
Em relação ao que esperava do actual Governo, acha que José Sócrates está a governar:
Melhor: 8,8%
Igual: 30,5%
Pior: 56,7%
Sem opinião: 4,1%
CAVACO SILVA REFORÇADO
A avaliação do Presidente da República é a melhor dos últimos dez meses. 62,3 por cento dos inquiridos na sondagem CM/Aximage considera que Cavaco Silva tem actuado bem. Apenas 17,5% acha que tem actuado assim-assim e 10,1% que tem actuado mal. As suas últimas intervenções, nomeadamente a mensagem de Ano Novo, na qual alertou para o problema da saúde e dos baixos rendimentos dos trabalhadores em comparação com os dos administradores, reforçaram a popularidade do Chefe de Estado. A sua posição no sistema político é cada vez mais o pilar de estabilidade.
COMO TEM ACTUADO O PRESIDENTE DA REPÚBLICA CAVACO SILVA?
Bem: 62,3%
Assim-assim: 17,5%
Mal: 10,1%
Sem opinião: 10,1%
AVALIAÇÃO DOS MINISTROS
Teixeira dos Santos (Finanças): 12,4 valores (Subiu)
Subiu a nota, porque mostra resultados no combate ao défice, o que é aplaudido por Bruxelas.
Luís Amado (Negócios Estrangeiros): 11,6 valores (Subiu)
Os bons resultados da presidência europeia subiram a nota de Luís Amado, o segundo mais bem classificado.
Alberto Costa (Justiça): 10,3 valores (Desceu)
A revisão do Código Penal que libertou alguns presos prejudicam a avaliação do ministro, que desceu.
Rui Pereira (Administração Interna): 10,2 valores (Desceu)
O aumento da criminalidade na noite do Porto não ajudou à classificação, que vê a nota descer ligeiramente.
Manuel Pinho (Economia): 10,2 valores (Subiu)
Subiu a nota, beneficiando da captação de mais investimento da Volkswagen na Autoeuropa, em Palmela.
Vieira da Silva (Trabalho): 10,2 valores (Igual)
Manteve a nota, apesar de o aumento das pensões significar, mais uma vez, perda do poder de compra.
Severiano Teixeira (Defesa): 10,2 valores (Igual)
Manteve a nota, actuando bem em política de defesa para os países onde operam as forças militares portuguesas.
Jaime Silva (Agricultura): 10,2 valores (Subiu)
Subiu a sua avaliação, apesar da reestruturação do ministério não ter sido isenta de críticas.
Mariano Gago (Ciência): 10,2 valores (Igual)
Manteve a nota, porque tem actuado no sentido de Portugal avançar a nível tecnológico.
Santos Silva (A. Parlamentares): 10,1 valores (Subiu)
Subiu ligeiramente, mesmo depois de José Rodrigues dos Santos ter voltado a falar de inge-rências na RTP.
Silva Pereira (Presidência): 10,1 valores (Subiu)
Subiu a nota, porque tem actuado bem, demonstrando conhecimento dos dossiês importantes.
Nunes Correia (Ambiente): 10,1 valores (Igual)
Detentor de uma pasta que não afecta de forma tão forte os portugueses, manteve a sua classificação.
Isabel Pires de Lima (Cultura): 9,9 valores (Desceu)
Tem vindo a descer de pontuação. Criticada por intelectuais, corre uma petição para a substituir.
Mário Lino (Obras Públicas): 9,7 valores (Subiu)
Subiu a nota, beneficiando da inauguração do prolongamento da linha do Metro da Baixa-Chiado para Santa Apolónia.
Lurdes Rodrigues (Educação): 9,2 valores (Igual)
Manteve a nota, apesar de se considerar que o nosso ensino deixa muito a desejar quanto a qualidade.
Correia de Campos (Saúde): 5,3 valores (Desceu)
Tem a pior classificação. O fecho de Urgências e centros de saúde não agrada aos portugueses.
REACÇÕES
"PS NO CIMO HÁ TRÊS ANOS" (Vitalino Canas, porta-voz do PS)
“Apesar de as sondagens oscilarem, a tendência geral é a de que o PS há três anos que se mantém no cimo das preferências dos portugueses. A economia está melhor e o défice controlado, não há motivos para falta de confiança.”
"INCAPACIDADE SOCIALISTA" (Zita Seabra, Vice-presidente do PSD)
“Achava estranho se os resultados não fossem estes, dada a situação económica que temos. Agravou-se o desemprego e ainda houve o problema das pensões. Isto só prova a incapacidade socialista.”
"HÁ PROMESSAS POR CUMPRIR" (Bernardino Soares, CDU)
“O Governo está a pagar por fazer uma política que vai contra os interesses dos portugueses. Há promessas por cumprir e as medidas de Sócrates apenas beneficiam um pequeno grupo de poderosos e afecta o País”.
"GOVERNO ESTÁ DESGASTADO" (Diogo Feyo, Líder Parlamentar do PP)
“Estes resultados mostram que o Governo está desgastado e começa a pagar o preço por ser incapaz de realizar algum tipo de reforma. Os portugueses também percebem que o discurso optimista não corresponde à verdade.”
"POLÍTICA POUCO TRANSPARENTE" (João Semedo, Deputado do BE)
“É o resultado de uma política pouco transparente onde, por causa da obsessão pelo défice, nos dizem que está tudo melhor, mas continuam a exigir sacrifícios aos mesmos de sempre”.
FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM
Objectivo Barómetro Mensal – Janeiro de 2008 UNIVERSO: Eleitores residentes em Portugal em lares com telefone fixo ou com telefones móveis.
AMOSTRA: Aleatória estratificada por região, habitat, género, idade e escolaridade, a partir de um subuniverso definido através de um processo com características equivalentes, com 601 entrevistas efectivas.
COMPOSIÇÃO: Proporcional pela variável estratificação.
TÉCNICA: Entrevista telefónica C.A.T.I. (Computer Assisted Telephone Interviewing) através de telefones fixos (residência dos entrevistados) e de telefones móveis.
RESPOSTAS: Taxa de resposta de 70,8 por cento. Desvio padrão máximo de 0,020.
REALIZAÇÃO: O trabalho de campo decorreu entre 7 e 9 de Janeiro de 2008, para o Correio da Manhã pela Aximage, com a direcção técnica de Jorge Sá e de João Queiroz.
José Rodrigues
Informação retirado do jornal correiodamanha.pt