Vida a três favorece ruptura
É um dos momentos de crise para o casal. Os jovens pais sabem, os especialistas confirmam e há estudos que contabilizam em vinte por cento a percentagem das uniões que acabam em separação nos dois primeiros anos após o nascimento de um filho. Durante nove meses, mãe e pai fazem planos, antecipam o nascimento e imaginam tudo sobre o bebé. Mas poucos se preparam para o impacto do aparecimento de uma criança na vida de todos os dias.
"Vem abalar a estrutura de um relação e potencia a separação", admite a psicóloga e terapeuta familiar Catarina Mexia. "Muitos ainda estão a construir a sua identidade como casal, o nós, e essa tarefa não é fácil. Com o aparecimento de um filho, essa terceira identidade vem ser posta em causa e leva à necessidade de uma nova reorganização", explica. E tudo tem de ser reconstruído. O relacionamento com os avós, o estabelecimento de limites com as famílias de origem, a relação com os amigos.
Asexualidade também se ressente. A mulher passa por uma grande transformação física e alterações hormonais. Sente-se insegura com o corpo, pensa que não é desejada, tem menos disponibilidade. O homem tem de se habituar a dividir a atenção com o bebé, sente-se relegado para segundo plano. "Muitos têm ciúmes da criança, estavam habituados a ter a atenção toda", refere a psicóloga, sublinhando que é algo normal nos primeiros tempos e que não devem ter problema em falar sobre o assunto.
Catarina Mexia diz que o segredo para o restabelecimento da normalidade na vida sexual do casal passa pelo romantismo e por manter, sem culpa, momentos só a dois.
"Costumo dizer que estes momentos, de quinze em quinze dias ou todas as semanas, são tão inadiáveis como uma reunião de trabalho." "A mulher precisa de miminhos, de ser valorizada não só como mãe mas também como mulher", alerta. E defende que o reencontro deve passar por reabilitar a fase do namoro. "Inicialmente, para a mulher, uma abordagem puramente sexual pode ser um pouco agressiva", porque pode não estar preparada.
DIÁLOGO DURANTE A GRAVIDEZ: Catarina Mexia Psicóloga e terapeuta familiar
Correio da Manhã – Todos os casais passam por uma crise com o nascimento de um filho?
Catarina Mexia – Diria que quase 100% dos casais passam por esta situação. O que faz a diferença é o facto de terem recursos internos (maturidade emocional) e externos (como avós a quem possam lançar um SOS e recorrer quando precisam) para encarar esta fase como uma crise de crescimento e andar para a frente.
– Como se podem preparar?
– Devem aproveitar o tempo calmo da gravidez para conversar, é a velha questão do diálogo. Costuma haver uma perspectiva de conto de fadas, do encantamento, mas é raro falarem de como está a evoluir a relação. Não abordam os seus medos, as cedências que terão de fazer... E não é depois, com uma criança a chorar, noites sem dormir e no pico da irritabilidade, que vão conseguir resolver estas questões. É preciso ter coragem para falar de coisas difíceis quando ainda vivem tempos calmos.
– Como é que esta mudança interfere no desejo?
– Tendencialmente são as mulheres que se sentem pior. Algumas ficam muito afectadas na sua auto-estima e infelizmente escondem, comportam-se como se nada se passasse, porque sentem que é sua obrigação desempenhar o papel de mães. É preciso tempo para reconstruir a relação.
JOLIE E PITT, TRÊS ANOS E SEIS FILHOS DEPOIS
Desde que estão juntos, a família não pára de aumentar. A relação de três anos de Angelina Jolie e Brad Pitt já produziu quatro filhos. Maddox, de seis anos, foi adoptado em 2000 no Cambodja. Zahara Marley, de três, em 2005, na Etiópia. A primeira filha biológica, Shiloh, nasceu na Namíbia. Pax, de cinco anos, veio do Vietname. A actriz está agora grávida de gémeos e decidiu que as crianças vão nascer em França.
EFEITOS
SEPARAÇÃO
Vinte por cento dos casais separam-se nos primeiros dois anos após o nascimento do filho. A conclusão é de um estudo norte-americano das universidades de Washington e da Califórnia.
CONFLITOS
Quase todos (92 por cento) afirmam ter mais conflitos com o parceiro do que tinham antes de serem pais.
DEPRESSÃO
Três em dez casais apresentam sintomas de depressão.
SATISFAÇÃO
Setenta por cento acham que a satisfação com o casamento baixa.
A SUA OPINIÃO
"FILHOS SÃO TERNURA, ALEGRIA E PAIXÃO": Pedro Costa, Segurança, 30 anos, Porto
Os filhos ajudam à união do casal. São sinal do amor e cumplicidade que nutrem um pelo outro. Podem surgir discordâncias, mas a questão não está nos filhos, que são ternura, alegria e paixão."
"POR VEZES ESTRAGAM ALGUMAS COISAS": Eduardo Álvaro Treinador de futebol, 50 anos, Viseu
Quando os filhos ainda são pequenos, podem prejudicar. Cabe ao casal saber encontrar o momento certo para fazer determinadas coisas sem importunar o descanso dos filhos. Por vezes eles estragam algumas coisas."
"NÃO SÃO RESPONSÁVEIS PELO DIVÓRCIO": Idalina Ramos Doméstica, 73 anos, Lisboa
Entendo que não, que os filhos não podem ser vistos como uma causa para os pais não gostarem um do outro. Acho que as crianças é que sofrem com os desentendimentos. Não são responsáveis pelo divórcio."
"CANSAÇO AFECTA VIDA SEXUAL": Eronice Santana Empregada de limpeza, 28 anos, Lagoa
Em termos emocionais acho que os filhos não prejudicam o casal, pelo contrário, até ajudam a aproximação. Mas a vida sexual pode ser afectada, devido ao cansaço e à falta de tempo da mulher, que se dedica totalmente ao bebé.
in www.correiodamanha.pt