Salários: Há 10 anos que se perde poder de compra
Engano na inflação rende 50 milhões
O engano na previsão da taxa de inflação para o ano passado permitiu ao Estado poupar cerca de 50 milhões de euros em remunerações certas e permanentes dos funcionários públicos.
A diferença entra a taxa de inflação prevista pelo Governo, de 2,1%, e a verificada e ontem anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que se fixou nos 2,5 por cento, fez com que os portugueses tenham perdido poder de compra. Uma situação que se arrasta há uma década e que já levou a uma perda de 35 euros mensais para um salário de 500 euros.
Tendo em conta que até Novembro último o Estado gastou 12,59 mil milhões de euros em remunerações para uma execução orçamental de 94 por cento, se tivesse corrigido o aumento salarial dos funcionários públicos nos 0,4 por cento de diferença entre a inflação prevista e a real, o Estado teria gasto mais 50 milhões de euros.
Em Outubro último, na apresentação do Orçamento de Estado para 2008, o Governo reviu em alta a previsão da inflação para 2007, para os 2,3 por cento, mas não procedeu à actualização dos salários.
A UGT fez as contas para os últimos dez anos – durante os quais o Governo falhou sempre as previsões da inflação – e concluiu que os trabalhadores nacionais perderam 7,1 pontos percentuais em poder de compra, ou seja, 35 euros para um salário de 500 euros.
A diferença entre as estimativas governamentais e a inflação real levaram a UGT a destacar o “irrealismo” das previsões do Executivo, considerando que estas têm sido “um elemento de forte perturbação da política económica, mas têm sido sobretudo um elemento de desestabilização da política de rendimentos”. Já a CGTP apelou a “mais verdade” nas estimativas, para que as negociações salariais não se baseiem em previsões erradas.
As duas centrais sindicais alertaram, ainda, para uma repetição da situação este ano.
JOSÉ SÓCRATES PROMETEU
O primeiro-ministro prometeu, em Novembro, que os funcionários públicos não perderiam poder de compra este ano. Ontem, José Sócrates admitiu o engano nos cálculos do ano passado, mas mostrou-se confiante em que este ano os objectivos serão alcançados. Menos confiantes estão os sindicatos da Função Pública que face aos dados ontem revelados pelo INE vieram, mais uma vez, exigir uma correcção salarial em 2008 para que “trabalhadores e pensionistas não continuem a ser massacrados”. Em causa está o facto de o Governo prever uma inflação de 2,1%, quando os organismos internacionais apontam para 2,4%.
APONTAMENTOS
OPOSIÇÃO
Os partidos da oposição criticaram ontem o engano nas previsões governamentais para a inflação, destacando que isto tem pesadas consequências nos bolsos dos trabalhadores que todos os anos perdem poder de compra.
CARREIRAS
O Ministério das Finanças esclareceu ontem que as progressões nas carreiras dos funcionários públicos só ainda não ocorreram porque o processo de avaliação de desempenho referente a 2007 só deve estar concluído em Março.
SAÚDE
A taxa de inflação foi impulsionada pelo aumento dos preços dos serviços de Saúde que cresceram 7,4 por cento. Outros dos preços que mais subiram no ano passado foram os das bebidas alcoólicas e tabaco (4,9 por cento) e da educação (mais 3,7 por cento).
COMPARAÇÃO ENTRE INFLAÇÃO PREVISTA E INFLAÇÃO VERIFICADA
1998
2,0% (Prevista) / 2,8% (Verificada)
1999
2,0% (Prevista) / 2,3% (Verificada)
2000
2,0% (Prevista) / 2,9% (Verificada)
2001
2,9% (Prevista) / 4,4% (Verificada)
2002
2,8% (Prevista) / 3,6% (Verificada)
2003
2,5% (Prevista) / 3,3% (Verificada)
2004
2,0% (Prevista) / 2,4% (Verificada)
2005
2,0% (Prevista) / 2,3% (Verificada)
2006
2,3% (Prevista) / 3,1% (Verificada)
2007
2,1% (Prevista) / 2,5% (Verificada)
Fonte: UGT
Sandra Rodrigues os Santos
Informação retirada do correiodamanha.pt