Quatro dias de greve à recolha do lixo foi o suficiente para transformar Lisboa, que produz em média 930 toneladas de detritos por dia, numa cidade malcheirosa, com restos de comida e outras imundices em ruas comerciais e turísticas.
João Martins, 60 anos, dono da mercearia Morgadinha da Graça, sente bem na pele os efeitos dos quatro dias de greve dos cerca de dois mil trabalhadores da higiene urbana da Câmara de Lisboa.
O que perturba este merceeiro não é "apenas" o lixo acumulado nas ruas, impedindo passeios e emanando cheiros nauseabundos. É que João Martins, trabalhando sobretudo com hortaliças, frutas e carne, tem de guardar todo o lixo que a Morgadinha da Graça tem vindo a produzir nas duas carrinhas que possui. "Se o deitasse na rua, o cheiro piorava e a rataria logo infestaria o local".
É difícil constatar se todos os comerciantes tiveram o mesmo espírito de abnegação. Mas, numa ronda rápida pela cidade, facilmente se percebe que nem todos podem, ou estão dispostos, a usar a viatura própria para guardar o lixo enquanto dura a greve dos trabalhadores camarários, que hoje termina. Só amanhã é que deverá ser retomada a normalidade na recolha de resíduos. Segundo os sindicatos (dos Trabalhadores do Município de Lisboa e também o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local), a adesão à greve tem sido superior aos 90%.
Aos quatro dias de greve, soma-se o facto de não haver recolha de lixo ao domingo. Segundo os cálculos do JN, usando os dados disponíveis no site da Câmara de Lisboa (de 2006), o concelho de Lisboa - e os cerca de dois milhões de pessoas que frequentam diariamente a cidade - produz 930 toneladas de lixo por dia, ou seja mais de 340 mil por ano. Os primeiros registos de recolha organizada de lixo em Lisboa remontam a 1496, ano em que D. João III contratou homens para o fazerem.
Os trabalhadores da Câmara partiram esta semana para a greve por causa de uma eventual privatização dos serviços de limpeza na cidade. O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, garantiu que tal não vai acontecer e que a autarquia apenas pediu um estudo sobre a possibilidade de adjudicar a limpeza e varredura de ruas a uma entidade externa e só em duas zonas da cidade.
Os funcionários da higiene urbana ripostam pedindo a contratação de 200 cantoneiros e a compra de mais meios e equipamentos.
IN Jornal de Noticias