O presidente da Associação Nacional de Detectives Privados Portugueses, António Ferreira, foi detido pela PSP do Porto por suspeitas de dedicar-se a vigilâncias e escutas ilegais. É acusado, também, de ter agredido um polícia, nas buscas.
Pistola ilegal
Nas buscas, a PSP encontrou uma arma de fogo adaptada para calibre 6,35 mm, cuja posse é ilegal, bem como 37 munições. Foi também apreendida uma arma de alarme.
Foi há cerca de dois meses que o detective privado, de 57 anos e antigo funcionário civil da Polícia Judiciária, começou a estar na mira da Divisão de Investigação Criminal da PSP. Tudo por causa de uma denúncia de alegada devassa da vida privada, no âmbito de uma "investigação" que ele levava a efeito num caso de desavenças conjugais. Presente ontem ao Tribunal de Valongo, saiu em liberdade, mas obrigado a apresentar-se quinzenalmente às autoridades. O JN tentou contactá-lo, inclusive através de dois colegas da associação que representa, mas os esforços revelaram-se infrutíferos, até ao fecho da edição.
A investigação da PSP teve efeitos práticos, anteontem, com cinco buscas - a casas, carros e um estabelecimento - nos concelhos do Porto (onde o suspeito tem escritório), Gondomar (onde reside) e Valongo. Os agentes encontraram vários aparelhos definidos como de elevada sofisticação para acções de vigilância. Entre os artigos, destacavam-se microcâmaras dissimuladas num casaco, em malas, numa caneta e até num dispositivo de detecção de incêndios e numa lâmpada de luz de emergência.
In Jornal de Noticias
Equipamentos que também surpreenderam os polícias foram aparelhos de localização por GPS dotados de íman, de forma a serem colocados nas viaturas das pessoas vigiadas. Microfones e gravadores de som, câmaras fotográficas com lentes de longa distância, aparelhos de comunicação e material informático também constam da lista de apreensões. Fonte policial sublinhou, a propósito, que o investigador privado revelava "elevado grau de profissionalismo e conhecimentos técnicos significativos". Foram também apreendidas uma arma de fogo adaptada para calibre 6,35 mm (ilegal), 37 munições e uma pistola de alarme.
Segundo a PSP, durante a busca realizada à residência de António Ferreira, em Gondomar, o suspeito "reagiu com violência", atacando um dos agentes com um bengaleiro. O polícia sofreu um traumatismo num braço, teve de ir ao hospital e poderá ficar incapacitado para o serviço num período até 15 dias. Foi pela agressão que o detective acabou por ficar detido até ser presente a tribunal para primeiro interrogatório. Pelos outros crimes - como devassa da vida privada e fotografia ilícita - seria apenas constituído arguido.
No site da Internet da sua agência, António Ferreira apresenta-se como "profissional de investigação" no activo desde 1983. Entre os serviços prestados, destaca investigações de casos de adultério e de desaparecimentos de bens e pessoas, além de trabalhos com empresas, advogados e companhias de seguros, estendendo a sua acção a "todo o país e estrangeiro". Segundo o JN apurou, foi também, há alguns anos, funcionário civil da Polícia Judiciária, no sector da manutenção.
Em 1992, foi um dos fundadores da Associação Nacional de Detectives Privados Portugueses, instituição que tem defendido, desde essa altura, a regulamentação daquela actividade.