Uma rede internacional que facilitava a entrada de imigrantes ilegais através do casamento foi desmantelada pela PJ, em Lisboa e no Porto. Ao princípio da noite desta sexta-feira, já havia 12 detidos, mas a operação continuava.
A origem maioritária dos imigrantes é o Paquistão, um dos pontos mais quentes com ligações ao terrorismo. O JN que embora não tenham sido ainda encontradas ligações directas a nenhuma organização terrorista, a verdade é que foi a possibilidade de elas existirem que levou as autoridades a agir. A Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB), da Polícia Judiciária já tinha detido, ao princípio da noite, 12 suspeitos, entre os quais pelo menos uma conservadora da zona do Grande Porto e um funcionário da Segurança Social, ambos por corrupção.
À conservadora caberia a função de facilitar toda a documentação para os casamentos, enquanto ao funcionário da Segurança Social caberia a produção documentos falsificados associados à garantia de trabalho, uma das condições para a legalização.
Detidos estavam também pelo menos dois homens de negócios, responsáveis pela criação de empresas, algumas delas com o único objectivo de conseguir certificados de trabalho para legalizar imigrantes.
O objectivo da rede internacional, com tentáculos na Europa e no próprio Paquistão, era conseguir documentos para a legalização e Portugal funcionava como o principal entreposto da rede. Durante as buscas já realizadas pela DCCB foi apreendida muita documentação que, ontem à noite, estava ainda a ser analisada. Entre a mesma estavam falsos contratos de trabalho.
Os candidatos ao casamento chegavam do Paquistão mas também da Europa - Itália, Alemanha, França e Bélgica, entre outros países . Calcula-se que pelo menos 200 imigrantes tenham conseguido a legalização desta forma e, ao mesmo tempo, a liberdade para circular em todo o espaço da União Europeia.
O JN sabe que a Espanha era usada também com o mesmo propósito e vários suspeitos foram detectados em movimentos de e para o país vizinho.
Os casamentos tinham um carácter fictício, uma vez que as mulheres, portuguesas, eram arregimentadas para o efeito a troco de dinheiro. Normalmente, eram usadas mulheres muito pobres ou com fortes dificuldades financeiras.
O processo decorre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), do Ministério Público, em Lisboa e chegou a estar associado directamente a terrorismo, mas diligências posteriores terão alterado esta classificação.