13 Março 2009 - 00h30
Aveiro: Pai pensou que tinha deixado filho na creche
Deixou bebé morrer ao sol no carro
"Ele está a respirar, ele está a respirar." João Carlos Moreira, de 29 anos, não queria acreditar que se tinha esquecido do filho no carro durante três horas da manhã de ontem, na rua de Timor, em Aveiro. Para ele, o inanimado João Pedro, de nove meses, estava vivo – mas o pequeno bebé já tinha falecido, devido a desidratação.
Tal como noutro dia qualquer, João Moreira, programador informático, saiu de casa no seu Opel Corsa, com o filho na cadeira, no banco traseiro. O local de trabalho do homem de 29 anos fica a quatro metros da creche onde deveria ter deixado o bebé, mas o silêncio do adormecido João Pedro fez com que o pai se tivesse esquecido da criança no automóvel, das 09h30 até às 12h30, hora em que a temperatura atingiu os 22 graus.
O alerta foi dado por uma das sócias-gerentes do infantário. Catarina estranhou a falha do Joãozinho, bebé adorado pelas responsáveis da creche. 'Ele tinha ido a uma consulta recentemente, imaginei que estivesse atrasado novamente por motivo similar. Telefonei para casa e, como ninguém atendeu, liguei para a mãe', conta, desolada, Catarina, que ao saber que o carro do pai de João estava à porta saiu para a rua.
Ao lado, João Moreira, ao telefone com a esposa, saiu também da loja de informática para resgatar o seu filho. 'Catarina, eu juro que pensei que o tinha deixado convosco', confessou desesperado João Moreira à responsável da creche que encerrou durante o resto do dia. A rápida chegada do INEM ao local de nada adiantou. 'Foi grande o alvoroço, mas já não conseguiram evitar a tragédia', conta uma vizinha, Cidália, de 58 anos.
João Moreira, que tem ainda outro rebento, Inês, de quatro anos, foi levado pela PJ e é arguido por homicídio negligente do filho, que completaria dez meses na próxima quarta--feira, dia 18 de Março.
DESIDRATADO
Uma das causas prováveis para a morte do bebé pode ter sido a desidratação, como consequência da insolação, devido à exposição prolongada ao calor. Salvaguardando a questão de não conhecer o caso em concreto, o director da Maternidade Alfredo da Costa, Jorge Branco, explica ao CM a causa provável. 'Os bebés desidratam-se com facilidade, têm pouca resistência ao calor, perdem líquidos pela transpiração e há a morte súbita.'
'É PROVÁVEL QUE SEJA ACUSADO': Rogério Alves Advogado
Correio da Manhã – Como se enquadra juridicamente este caso?
Rogério Alves – No crime de homicídio por negligência, punível com pena de prisão até 3 anos, ou 5 anos em caso de negligência grosseira. Só seria crime de exposição ao abandono, cuja pena vai até dez anos, se houvesse dolo, se ficasse provado que o pai teve intenção de deixar lá a criança.
– Há alguma hipótese de o pai não ser acusado?
– É muito provável que seja acusado. Não é que o Ministério Público não tenha sentimentos. Vai sempre ter imensa pena do pai mas isso nao chegará para não o acusar. Se o caso chegar a julgamento, o juiz será benevolente, tendo em conta a conduta involuntária e o sofrimento do pai, que até pode ser absolvido. Penso que nunca haverá pena efectiva de prisão. Será pena suspensa ou dispensa de pena.
MÃE DE CRIANÇA REVOLTADA COM FATÍDICA DISTRAÇÃO
A morte do pequeno João deixou destruída a família Moreira. A mulher de João Carlos não escondeu a fúria e a incompreensão face ao esquecimento do marido, que também se mostrou, na PJ de Aveiro, consumido em sentimento de culpa pelo falecimento do filho. À margem de toda a situação está o outro rebento do casal, Inês, que, com quatro anos, não percebe a tragédia que se abateu à sua volta.
João Moreira e a família residem num humilde apartamento na rua de Mário Sacramento, em Aveiro, sendo que a mãe do pequeno João apenas há pouco tempo conseguiu emprego numa óptica no centro da cidade aveirense. 'Era ela que costumava trazer o Joãozinho, quando estava desempregada', conta, a chorar, Joana Silva, uma das gerentes da creche O meu ó ó, que já havia sido frequentada pela filha mais velha do casal.
As lágrimas das responsáveis do infantário alastraram à vizinhança. 'Não dá para acreditar. Eu, como tantas pessoas, passei na rua junto ao carro e não reparei na criança. Ninguém fica indiferente a esta tragédia', disse ao CM Cidália, de 58 anos, que reside e trabalha na rua de Timor, onde faleceu o pequeno João Pedro Moreira.
OUTROS CASOS
FATAL NO MONTIJO
Um bebé de 19 meses morreu no Montijo, em Maio de 2005, depois de passar o período mais quente da tarde num carro junto ao Estabelecimento Prisional da cidade, onde a avó trabalhava. A tragédia ficou adever-se a um mal-entendido sobre quem devia ter ido buscar o menino.
SALVO PELA POLÍCIA
A 25 de Junho de 2004, várias pessoas descobriram uma criança de sete meses quase a asfixiar dentro de um carro no estacionamento subterrâneo do Fórum Almada.
A PSP, alertada pelo pânico dospopulares, resgatou o bebé.
ALCOFA CAÍDA NO CHÃO
Um bebé de quatro meses foi encontrado morto dentro de uma carrinha, em Felgueiras, no dia 22 de Junho de 2004. A mãe, florista, deixou o bebé no banco da frente, dentro da alcofa, enquanto descarregava a mercadoria. Terá demorado cinco minutos.A alcofa estava caída no chão.
AUTOMÓVEL EXPLODIU
Um bebé de quatro meses foi encontrado morto dentro de uma carrinha, em Felgueiras, no dia 22 de Junho de 2004. A mãe, florista, deixou o bebé no banco da frente, dentro da alcofa, enquanto descarregava a mercadoria. Terá demorado cinco minutos.A alcofa estava caída no chão.
UM DIA INTEIRO NO CARRO
A 22 de Julho de 2008, em Saint-Marcel, França, uma menina de 3 anos ficou um dia inteiro num carro fechado e estacionado ao Sol, acabando por morrer. O pai pensava que a tinha deixado com a babysitter, esquecendo--se de que a criança estava no carro.
NOTAS
ARGUIDO: PAI SAIU DA PJ À TARDE
João Carlos Moreira foi ouvido pela PJ e constituído arguido por homicídio negligente. O programador informático, conhecido por ser um homem distraído, saiu em liberdade ainda na tarde de ontem
SILÊNCIO: 'ASSUNTO PESSOAL'
Na empresa multimédia onde trabalha João Carlos Moreira ninguém quis prestar declarações ao ‘Correio da Manhã’. 'É um assunto pessoal, não vamos falar', esclareceu uma das funcionárias
CRECHE: TUDO LEGALIZADO
Na empresa multimédia onde trabalha João Carlos Moreira ninguém quis prestar declarações ao ‘Correio da Manhã’. 'É um assunto pessoal, não vamos falar', esclareceu uma das funcionárias
Fonte: http://www.correiomanha.pt/Noticia.aspx?channelid=00000009-0000-0000-0000-000000000009&contentid=C698C8E2-F1C3-4E03-8FFD-EDB6B54DDC2D
Até me vieram as lágrimas aos olhos...que horror!!!