No ano passado, a escola de música Teclas de Maestro, em Lisboa, tinha duas turmas com crianças de 3 e 4 anos. "Neste momento não tenho nenhuma. Houve muitas desistências", diz Gioconda Alves. A responsável não duvida que a falta de dinheiro para pagar a mensalidade foi o motivo da maioria dos abandonos.
É que quando é preciso fazer cortes para manter o orçamento familiar equilibrado, as actividades extracurriculares são as primeiras a sofrer, explicam os responsáveis de colégios e academias contactados pelo DN.
"Há pais que admitem que têm a mensalidade em atraso porque têm outras contas prioritárias para pagar", explica Tiago Coelho, da Escola de Futebol Benfica de Almada, onde cerca de 15% das mensalidades estão por pagar. Na Escola de Futebol Rui Águas, este é o segundo ano consecutivo que a direcção opta por baixar as mensalidades e mesmo assim houve mais de 30 desistências no último ano, indica a directora Maria Romero. Atrasos e abandonos que se repetem na FootEscola. "Estamos convictos que é por causa da crise apesar das pessoas não o declararem abertamente", diz o professor João Barnabé.
Também nos colégios privados que oferecem actividades depois das aulas, como a natação, se nota a diferença, diz João Alvarenga, presidente da Associação do Ensino Privado. "É muito difícil ter números exactos de desistências mas os nossos associados dizem que as famílias estão a sentir sérias dificuldades para manter os filhos nas actividades. Os pais fazem muitos sacrifícios mas quando não aguentam mais, é o primeiro extra em que se corta".
Também na Academia de Judo da Amadora, por exemplo, o número de alunos diminuiu cerca de 40%, segundo o treinador Luís Almeida. E no Judo Clube de Lisboa, o maior do País, existe um projecto - com o apoio da UNESCO - para que algumas crianças possam frequentar as aulas sem pagar ou com reduções.
Gioconda Alves, da Teclas de Maestro, acrescenta que muitos pais optam por fazer as crianças escolher apenas uma actividade ou reduzir o número de aulas por semana. "Escolhem muito a natação, por exemplo, e abandonam a música", explica. As piscinas foram aliás os locais contactados pelo DN onde se referiram aumentos nas inscrições, mesmo com algumas desistências por causa das dificuldades económicas