Sete em cada cem controladores de tráfego aéreo (CTA) procuraram, no ano passado, a ajuda dos colegas para superar o stress, no âmbito de um programa de apoio para situações de forte reacção emocional
O coordenador nacional do CISM (Gestão do Stress em Situações de Incidente Crítico, na sigla inglesa), António Guerra, que hoje fez um balanço dos sete anos de funcionamento do programa, salientou que, em 2008, foram apoiados 30 controladores de tráfego, dos quais 17 de forma continuada, num total de 420 profissionais.
Aproximação demasiada entre aviões, perda momentânea da percepção da situação de tráfego, quando há um movimento intenso de aeronaves, near collision (quase colisão) e acidentes surgem no topo da tabela dos incidentes críticos que tornam esta profissão desgastante e particularmente sujeita ao stress.
«A esofagite [inflamação do esófago devido ao refluxo gástrico] é uma doença profissional dos CTA. Todos temos esta doença que é directamente proporcional ao stress» , salientou o coordenador do CISM e antigo controlador de tráfego aéreo.
A base deste programa de intervenção «é ouvir as pessoas», realçou.
António Guerra adiantou que 86 por cento das pessoas que passam pelo CISM manifestam, nas 24 horas que se seguem a um acidente crítico, algum tipo de reacção cognitiva, física ou emocional.
«Se nada for feito, 22 por cento podem apresentar sintomas de stress seis meses ou um ano depois do incidente e 4 por cento podem desenvolver a síndrome de stress pós-traumático» , acrescentou.
«A dúvida» é o que está por trás dos pedidos de ajuda, referiu.
«A questão que se coloca é saber se fizeram tudo para evitar um determinado incidente» , explicou o mesmo responsável, sublinhando que o objectivo não é fazer terapia, mas sim dar «uma ajuda no imediato» e detectar se é preciso outro tipo de acompanhamento.
A ajuda é dada por «pares», ou seja, colegas de trabalho que se voluntariaram para fazer parte do programa e cuja principal intervenção é conversar com a pessoa que necessita de apoio.
Actualmente, a equipa do CISM é constituída por 33 controladores de tráfego aéreo e três profissionais de saúde, que estão preparados para acompanhar casos em que é necessário apoio psicológico.
O número de voluntários tem vindo a crescer: «Quando pedimos voluntários, 30 por cento dos CTA ofereceram-se e nunca desistiram a meio» dos três anos que dura o «contrato», afirmou António Guerra, frisando que a adesão tem vindo a aumentar.
O programa deve ser alargado este ano às famílias dos CTA e deve chegar também a outras profissões que já mostraram interesse, como os pilotos da TAP.
Para o coordenador nacional, o CISM poderia ser útil a um vasto leque de profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, paramédicos, bombeiros, polícias e professores.
O CISM é um programa internacional dinamizado pela NAV, a empresa que controla o tráfego aéreo em Portugal, e que garante assistência e apoio psicológico aos técnicos de informação e comunicações aeronáuticas e controladores de tráfego aéreo.
Lusa / SOL