Apenas 77% das 55 unidades que tratam cancro têm oncologistas médicos, o que para a Ordem dos Médicos é inadmissível. Além disso, só 28 hospitais têm um destes profissionais na consulta multidisciplinar, onde se tomam as decisões sobre o tratamento
Há pelo menos 13 hospitais que estão a tratar doentes com cancro sem terem, sequer, um oncologista médico. Uma situação que a Ordem dos Médicos considera inadmissível por colocar em causa a qualidade dos tratamentos. De acordo com os resultados preliminares de um inquérito feito aos hospitais no final de 2008, a que o DN teve acesso, 77% das unidades com actividade oncológica não têm um especialista.
Pedro Pimentel, coordenador nacional das doenças oncológicas, admite em entrevista ao DN que "não se pode tratar cancro sem a existência de oncologistas" e lembra ainda que, "mesmo nos hospitais que os integram, 35% apenas têm um especialista a tempo parcial".
Numa rede analisada de 55 hospitais, a ausência de oncologista médico, "põe em causa tudo o que está antes e depois do tratamento de um doente. Isto significa que não têm competência para o tratar", alerta Jorge Espírito Santo, presidente do colégio da especialidade da Ordem dos Médicos.
Os resultados do inquérito mostram ainda outras lacunas importantes que denunciam as assimetrias no tratamento no País. Só existe consulta multidisciplinar em 81% das unidades, o que significa que dez não a têm organizada. Porém, o oncologista só participava em 63% destas unidades, "quando devia estar em todas", esclarece Pedro Pimentel.
Estas consultas são os momentos em que são analisados caso a caso os doentes com cancro e em que participam oncologistas, radioterapeutas, cirurgiões e anatomopatologistas (responsáveis pelos exames). Faz-se o diagnóstico, analisam-se as condições necessárias para operar e decide-se todo o processo de tratamento do doente antes e depois da operação. É por isso que o oncologista Jorge Espírito Santo sublinha: "Se não há oncologista na consulta não podemos falar em consulta multidisciplinar!". Nesse caso, apenas podíamos referir que estas consultas só existem em 28 dos 55 hospitais, ou seja, em metade.
Outro problema que já foi detectado é a escassez de cirurgias anuais feitas por cada unidade todos os anos (ver texto em baixo), mas o especialista alerta que a cirurgia é apenas um passo. "Antes disso, tem de ser feito o estadiamento (definição da fase e gravidade) do cancro, saber que exames se devem pedir e definir os moldes da operação", o que implica uma análise na consulta entre especialidades.
Pedro Pimentel falou que, em 2010, a rede hospitalar de tratamento oncológico será definida. "Haverá instituições que farão apenas parte do tratamento e que terão de se articular com outras para o continuar", refere.
Para isso, serão criadas coordenações regionais, nas cinco Administrações Regionais de Saúde, que "terão uma visão do que existe, vão definir o que deve ou não continuar a existir em cada serviço e para onde serão enviados os doentes em cada situação".
Fonte: DN