Que se lixe, limpo-me no aeroporto, - pensei - pior do que estou não fico.
Mal o autocarro entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei os
olhos, segurei-me na cadeira, mas não pude evitar, e sem muita cerimónia ou
anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez como uma pasta morna.
Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando e lambuzando o cu,
cuecas, barra da camisa, pernas, calças, meias e pés. Logo a seguir, mais
uma cólica anunciando mais merda, agora líquida, das que queimam o fofo do
freguês ao sair rumo à liberdade. E, no instante seguinte, um peido tipo
bufa, que eu nem tentei segurar... afinal de contas o que era um peidinho
para quem já estava todo cagado??
Já o peido seguinte foi do tipo que pesa e eu caguei-me pela quarta vez.
Lembrei-me de um amigo que, certa vez, estava com tanta caganeira que
resolveu pôr um penso higiénico nas cuecas, mas colocou-o com as linhas
adesivas viradas para cima e, quando quis tirá-lo, levou metade dos pêlos
do rabo junto. Mas, era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha
menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia ajudar-me a
limpar a sujeira. Finalmente cheguei ao aeroporto e, saindo apressado com
passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse a minha mala na
bagageira do autocarro e a levasse aos sanitários do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas. Corri para a casa de banho e entrando de porta emporta, constatei a falta de papel higiénico em todas as cinco portas. Olhei
para cima e blasfemei:
- Agora chega, Pá!!
Entrei na última porta, mesmo sem papel, e tirei a roupa toda para analisar
a minha situação (que conclui como sendo o fundo do poço) e esperar pela
mala da salvação, com roupas limpinhas e cheirosas e com ela uma lufada de
dignidade no meu dia. Entretanto, o meu amigo entrou na casa de banho cheio
de pressa... já tinha feito o 'check - in' e disse-me que tinha que ir
depressa avisar o voo para esperarem por nós. Mandou por cima da porta o
cartão de embarque e a minha maleta de mão e saiu antes de qualquer
protesto de minha parte. Ele tinha-se enganado na mala que eu aguardava e
já tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão só tinha um pullover
de lã com gola em bico. A temperatura em Lisboa nesta altura era de
aproximadamente 37 graus. Desesperado, comecei a analisar quais das minhas
roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. As minhas cuecas, mandei-as
para o lixo. A camisa era história. As calças estavam deploráveis, assim
como as minhas meias, que mudaram de cor tingidas pela merda. Aos meus
sapatos dava-lhes nota 3, numa escala de 1 a 10. Teria que improvisar. A
invenção é filha da necessidade, então transformei uma simples casa de
banho pública numa magnífica máquina de lavar. Virei as calças do lado
avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água. Comecei
a dar ao autoclismo até que o grosso da merda se desprendeu. Estava pronto
para embarcar. Sai do banheiro e atravessei o aeroporto em direcção ao
portão de embarque trajando sapatos sem meias, calças vestidas do avesso e
molhadas da cintura até ao joelho (não exactamente limpas) e o pullover de
gola em bico sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde.
Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam à espera do rapaz que
estava na casa de banho e atravessei todo o corredor até ao meu assento ao
lado do meu amigo que sorria. A hospedeira aproximou-se e perguntou-me se
precisava de algo. Eu cheguei a pensar em pedir uma gilette para cortar os
pulsos ou 130 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa
transbordante, mas decidi não as pedir...e respondi-lhe com uma esforçada
cara angélica:
- Nada, obrigado... eu só queria mesmo era esquecer este dia!