A confiança dos portugueses no Parlamento é inferior à média europeia. Dados revelados esta terça-feira apontam várias razões. Mas fica por saber se as faltas de deputados, como sexta-feira passada, fazem crescer a desconfiança.
Os resultados preliminares do inquérito à população eleitoral portuguesa de 2008 permitem, segundo os seus autores, tirar conclusões "razoavelmente satisfatórias" que apontam para um baixo nível de confiança dos portugueses no Parlamento.
Os dados são inéditos e foram apresentados ontem num debate que decorre até ao final da tarde de hoje nas instalações da Assembleia da República.
Uma das direcções para que aponta o estudo dos investigadores André Freire e Conceição Pequito é a da relação inversa entre a percepção negativa sobre os partidos e os políticos (porque não agem de acordo, nem atendem aos interesses dos cidadãos) e os níveis de confiança.
Tudo parece indicar que a desconfiança dos portugueses pode ter a ver com a consciência de que os políticos "estão lá" para satisfazer os seus interesses e não os dos cidadãos.
Mais, comparando com outros países europeus (dados de 2006), "os portugueses têm uma confiança no Parlamento que é inferior à média dos países considerados e que se aproxima dos níveis de confiança médios registados nos países da Europa de Leste. Ou seja, a confiança dos portugueses no Parlamento tende a aproximar-se mais das novas democracias do que das democracias já consolidadas", declarou Conceição Pequito, professora de Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP). Foram integradas na análise comparativa 23 democracias europeias. E, na apresentação dos dados para a "discussão da tese do declínio dos parlamentos à luz da (des)confiança dos cidadãos", a autora salientou que muitas das variáveis que explicam a diminuição da confiança dos eleitores no Parlamento em muitas dessas democracias, não têm peso em Portugal.
Em Portugal, o que parece ser determinante para a confiança na instituição parlamentar é a existência de elevados níveis de confiança interpessoal e a pertença a associações. "São factores determinantes", procurou demonstrar Conceição Pequito. A maior exposição à televisão é também uma variável importante na explicação da maior confiança dos portugueses no Parlamento - ao contrário dos restantes países europeus, em que esta correlação parece fraca e é, além disso, inversa.
De fora do estudo, por ser de outro âmbito, ficou a análise do comportamento dos deputados de acordo com o seu estatuto e com o regimento da Assembleia da República para perceber se o seu cumprimento afecta positivamente a confiança. Assim, não há estudos que permitam saber se comportamentos como faltas de deputados às votações são determinantes para entender o declínio da confiança no Palamento.
IN Jornal de Noticias