Traficantes de Lisboa e da Margem Sul preparavam-se para uma luta sem quartel pelo controlo do tráfico de droga, com roubos, sequestros e cárceres privados. A PJ prendeu 11 e evitou banho de sangue.
Os cárceres privados foram descobertos num dos mais problemáticos bairros sociais da Margem Sul do Tejo, a Quinta da Princesa, no concelho do Seixal, onde reinam as lutas de cães com apostas e de onde são originários muitos dos elementos que compõem os gangues responsáveis por roubos à mão armada, em particular o "carjacking".
A Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB) da Polícia Judiciária pôs fim ao conflito, com a detenção de 11 indivíduos, da Quinta da Princesa e Bairro da Jamaica, no Seixal, e no Barreiro, até porque muitos dos detidos estavam ligados à prática de outros crimes, como o "carjacking" e o roubo à mão armada.
Na origem do conflito está a simulação de um negócio de droga, no início de 2006, em que um grupo com origem na Quinta da Princesa e do Bairro da Jamaica, ambos na Margem Sul do Tejo, marcam um encontro na zona de Alcântara, em Lisboa, com traficantes da Cova da Moura, para compra de cocaína.
No entanto, acabaram por ficar com o dinheiro e a droga, ao mesmo tempo que obrigavam os cinco traficantes a entrar na bagageira dos automóveis levando-os sob sequestro para a Quinta da Princesa, com o intuito de conseguirem um resgate.
A cocaína acabou por ser vendida na zona do Bairro da Jamaica, uma das zonas de venda de droga mais importantes da Margem Sul, enquanto os traficantes da Cova da Moura eram mantidos sob sequestro. O local eram arrecadações nas traseiras de um prédio na Quinta da Princesa, viradas para uma infra-estrutura de assistência a idosos, e que tinham grades em ferro e portas quase blindadas. Os sequestrados estavam sob guarda armada, com o reforço de cães pittbull, e acabaram por ser libertados após vários dias de cárcere, mercê de negociações no meio criminoso, mas em que as vítimas sofreram várias sevícias e agressões.
Curiosamente, em Agosto desse ano, um indivíduo ligado ao grupo da Quinta da Princesa fora assassinado a tiro e o corpo incinerado na Charneca da Caparica, depois de raptado por indivíduos da Cova da Moura. Em termos processuais, os dois inquéritos não estão associados, mas as autoridades acreditam que desde o início de 2006 se estaria a desenhar um conflito entre traficantes, com os elementos da Quinta da Princesa a quererem ganhar preponderância, face à histórica primazia da Cova da Moura, ganha depois do fim do Casal Ventoso, em Lisboa.
As autoridades acreditam que essa luta poderá estar ligada a outros casos de ataques a tiro e roubos ocorridos na zona de Lisboa, mas que se estão a desenvolver em processos distintos.
IN Jornal de Noticias