Malta admitiu ontem à noite que movimentos do 'Arctic Sea' eram conhecidos, mas confidenciais. Rússia anunciou a detenção de oito assaltantes ao largo de Cabo Verde. A confirmar-se a tese da pirataria, trata-se de algo inédito na Europa. Este ano já houve 265 ataques
A Autoridade Marítima de Malta esclareceu ontem à noite que "os movimentos do Arctic Sea foram sempre conhecidos durante vários dias mas não revelados para não pôr em perigo as pessoas a bordo ou a integridade do navio", noticiou a Reuters.
No mesmo dia as autoridades russas anunciaram ter prendido oito piratas responsáveis pelo desvio do navio cargueiro, depois de, na véspera, garantirem que a tripulação resgatada ao largo de Cabo Verde não enfrentava ameaça armada.
"No dia 24 de Julho, nas águas territoriais suecas, uma lancha com quatro estónios, dois letões e dois russos aproximou-se do navio Arctic Sea. Alegando que o bote estava avariado, entraram a bordo e, ameaçando com armas, exigiram da tripulação o cumprimento incondicional de todas as suas ordens", explicou o ministro da Defesa russo, citado pelas agências internacionais.
Anatoli Serdioukov precisou, sem adiantar qual a motivação, que os homens permaneceram dentro do navio cargueiro, que se "dirigiu para África através de uma rota indicada pelos assaltantes que desligaram os aparelhos de navegação". A Estónia e a Letónia indicaram ontem à tarde que ainda não tinham sido informadas pelos russos sobre os seus cidadãos-piratas.
Os 15 tripulantes russos resgatados do navio, que foi encontrado no domingo a 300 milhas de Cabo Verde, chegam hoje à ilha do Sal, indicou a Lusa, sendo depois transportados de avião para a Rússia. Os piratas, esses, estão no contratorpedeiro Ladny, que foi deslocado para o Atlântico para localizar o navio, sob ordem do próprio Chefe do Estado russo, Dmitri Medvedev.
O Arctic Sea partiu da Finlândia a 23 de Julho, oficialmente carregado de madeira, devendo chegar, no dia 4, à Argélia. Mas aparentemente foi desviado a meio do caminho para o oceano Atlântico em direcção a África.
Apesar de, oficialmente, só ter sido localizado no domingo, há muito que os media insinuavam que o cargueiro com bandeira maltesa teria sido avistado antes. "A Marinha portuguesa foi quem primeiro reportou sexta-feira um avistamento do que pensava ser o Arctic Sea em águas internacionais ao largo de Cabo Verde", escreveu ontem o Times.
Questionada pelo DN, a porta--voz da Marinha portuguesa, a tenente Maria Martins, disse que "não fomos nós a dar informações sobre a posição do navio", recusando confirmar se Portugal foi um dos países que estiveram envolvidos nas operações. A responsável esclareceu ainda que a corveta portuguesa que se encontrava em Cabo Verde, no âmbito da cooperação técnico-militar com o arquipélago, "regressou no dia 28 de Julho".
O Daily Telegraph também adiantara que os russos sabiam há muito onde estava o navio. O próprio embaixador russo na NATO, Dmitri Rogozin, admitiu à agência russa ITAR-TASS que foram dadas informações falsas aos media para proteger "as acções dos militares russos".
Nas últimas semanas, especulou-se que, além de madeira, o navio cargueiro levava também droga ou armamento. "Se a Rússia fosse a única responsável, a NATO não a teria ajudado. Acho que vários Estados estão implicados e decidiram resolver o assunto em família", alertou ontem, em Moscovo, Mikhaïl Voïtenko, director do boletim Sovfrakht.
DN