1975
José Saramago é nomeado director-adjunto do "Diário de Notícias", de onde sai na sequência do 25 de Novembro, decidindo dedicar-se em exclusivo à escrita. Anuncia ao jornalistas: “Quem não está com a Revolução, é melhor não estar no Diário de Notícias.” Num tempo de opções radicalizadas, os editoriais, apesar de não assinados, vinham marcados pelo seu estilo inconfundível, posto ao serviço da facção gonçalvista do MFA. O saneamento de três dezenas de jornalistas, na sequência de um documento de protesto contra a falta de pluralismo do jornal, colou ao seu nome, visto como o mentor do processo, um rasto de polémica que o acompanhou até à morte. Em declarações sobre o assunto ao jornal Folha de S. Paulo, o escritor assumiu a sua responsabilidade na decisão mas disse que esta não foi apenas dele, mas de “um corpo coerente de pessoas que fez gorar o golpe preparado no exterior do jornal.”
1980
José Saramago subscreve, com Pina Moura, José Luís Judas e Barros Moura, uma posição de Terceira Via no PC defendendo “maior democracia interna” dentro do partido.
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1990
Demite-se da presidência da assembleia municipal da Câmara Municipal de Lisboa (para onde tinha sido eleito no ano anterior pelo PCP), manifestando-se “cansado” dos ataques da direcção de Álvaro Cunhal contra os militantes que manifestavam ideais de renovação do partido.
Novembro de 1991
A publicação de Evangelho Segundo Jesus Cristo é recebida com polémica em Portugal e noutros países, nomeadamente no Brasil, com a Igreja deste país a criticar o ateísmo do livro e a dizer que se o escritor fizesse parte da Igreja Católica seria “excomungado”.
Abril de 1992
A polémica em volta de Evangelho Segundo Jesus Cristo agudiza-se em Portugal, com o sub-secretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara, a excluir o livro da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu (em que estavam também Pedro Tamen e Fiama Hasse Pais Brandão, que virão a retirar-se num gesto de solidariedade para com Saramago, e Agustina Bessa-Luís). “O livro não representa Portugal nem os portugueses”, justifica o governante. Saramago comenta: “É o regresso da Inquisição”. A polémica arrasta-se por vários meses e, em 1993, Saramago decide abandonar o país para fixar residência na ilha de Lanzarote, em Espanha.
Março de 1993
A TVI proíbe a exibição de um anúncio ao livro In Nomine Dei. Em resposta, o escritor comenta, na sessão de encerramento da Feira do Livro de Braga: “Deus lhes dê uns bons açoites. (...) A TVI não sabe o que Deus quer, embora possa saber o que a Igreja quer”.
Janeiro de 1994
Em entrevista à televisão espanhola Antena 3, a pretexto de Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura, Saramago diz: “Deixem a cultura em paz”, e contesta o excesso de mediatismo e de artificialidade que acompanha o mundo da cultura. “Num momento em que a cultura na Europa está moribunda, entra-se numa operação artificial, com a contribuição dos governos e autoridades municipais”. “A realidade cultural de Lisboa não é a falsa realidade de 1994, mas a real de 1992, 1993 ou 1995”, acrescenta.
Janeiro de 1996
José Saramago e José Manuel Mendes subscreveram uma declaração de apoio à candidatura presidencial de Jorge Sampaio, sem esperarem pela reunião da Comissão Política do PCP (de que Saramago é membro desde 19669), que formalizaria a desistência de Jerónimo de Sousa em favor do ex-presidente da Câmara de Lisboa. É o primeiro de inúmeros episódios de demarcação do escritor relativamente à direcção do PCP.
Janeiro de 1996
Numa palestra em Brasília, critica a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que acusa mesmo de ser “uma organização criminosa, uma quadrilha que se dedica à extorsão e ao roubo”. Admite que a IURD “seria legítima” se tivesse “uma nova interpretação de Deus”. “Mas não. É o engano sistemático, é a exploração da credulidade, da ingenuidade das pessoas, é a especulação com o sofrimento do povo e sua desesperança”. O escritor compara os crimes das seitas evangélicas de hoje aos pecados da Igreja Católica no passado.
12 de Novembro de 1998
A maioria PSD na Assembleia Legislativa da Madeira rejeita um voto de congratulação e louvor a José Saramago pela atribuição do Nobel da Literatura. A proposta é votada favoravelmente apenas pelas bancadas da oposição.
10 de Dezembro de 1998
SIC antecipa no Jornal da Noite o teor do discurso de José Saramago na cerimónia de atribuição do Nobel, furando o embargo pedido pelo escritor e motivando a sua fúria.
27 de Fevereiro de 1999
Num colóquio em Lisboa sobre os 25 anos do 25 de Abril, Saramago diz acreditar que se a Revolução dos Cravos não tivesse sido feita, Portugal estaria igual ao que é hoje. “O 25 de Abril acabou. É história. É uma promessa que não se realizou”. E acrescenta: “Não quer dizer que não o devêssemos ter feito. Apenas que não soubemos, não pudemos ou não nos deixaram mantê-lo.”
Agosto de 1999
Recusa ser doutorado “honoris causa” pela Universidade de Belém do Pará, em sinal de protesto contra o modo como decorre o julgamento do massacre ocorrido na povoação de Eldorado dos Carajás, a 17 de Abril de 1996, em que 155 soldados da polícia militarizada abriram fogo contra uma manifestação de camponeses tendo provocado 19 mortos e um número indeterminado de feridos. “Já não imaginava que em pleno século da chamada democracia global pudessem acontecer coisas assim”, justifica.
Setembro de 2000
Entra em polémica com o deputado comunista Carlos Brito, pelo facto de este ter enviado uma carta à direcção do PC criticando as posições do partido, não fazendo “jus ao seu passado histórico de comunista”, diz. Um ano depois, é o escritor que acaba por demarcar-se do PC, ao voltar a apoiar a (re)candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República, quando o partido apostava numa candidatura própria com o seu militante António Abreu. E em Abril de 2004, em entrevista à TSF, desafia o PC a procurar “caminhos novos”, frisando que “as batalhas de hoje não se ganham com as armas de ontem”.
18 de Setembro de 2001
Uma semana depois do 11 de Setembro, num artigo editado simultaneamente no PÚBLICO e no El País, intitulado O Factor Deus, o escritor cita exemplos de violência ocorrida em países como a Índia, Angola e Israel, supostamente por motivos religiosos, para expressar a sua ideia de que “as religiões, todas elas, sem excepção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais”. O artigo provoca uma série de reacções, de diversos sentidos, na imprensa portuguesa.
24 de Janeiro de 2002
Em visita a Ramallah, integrado numa delegação do Parlamento Internacional de Escritores (PIE), Saramago compara a ocupação israelita dos territórios palestinianos ao campo de concentração nazi de Auschwitz. “É preciso dizer que o que acontece na Palestina é um crime que nós podemos parar. Podemos compará-lo ao que aconteceu em Auschwitz”. A declaração motiva uma demarcação do PIE e também críticas generalizadas em Israel, nomeadamente por parte da Liga Anti-Difamação e do escritor Amos Oz, com este a acusar Saramago de “revelar uma terrível cegueira moral”. Em entrevista ao jornal brasileiro O Globo, em Outubro de 2003, o escritor volta a abordar o tema e reafirma a sua posição. “Os judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto. Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós”.
14 de Abril de 2003
Depois de por várias vezes se ter manifestado um acérrimo defensor da revolução cubana, Saramago critica o regime comunista de Fidel, agastado com a execução de três dos autores do desvio de um ferry. Num artigo de opinião no diário espanhol El País, o escritor demarca-se dos destinos da governação cubana. “Até aqui cheguei. De agora em diante, Cuba seguirá o seu caminho, eu fico”, escreve.
15 de Julho de 2007
Em entrevista ao “DN”, Saramago defende que os portugueses só tinham a ganhar se Portugal fosse integrado na Espanha. “Não vale a pena armar-me em profeta, mas acho que acabaremos por integrar-nos”. (...) Seria mais uma província. “Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla la Mancha e tínhamos Portugal. Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria”. As declarações motivam reacções desencontradas (e polémica) no país e ganham eco internacional, nomeadamente em Espanha.
http://www.publico.pt/Cultura/cronologia-as-polemicas-de-jose-saramago_1442502