Murat arguido porque quis 'infiltrar-se' na investigação
FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA
Maddie. Denúncia de jornalista foi tida em conta
"O suspeito foi visto no local da ocorrência a falar sobre o acontecido com as pessoas que lá estavam, nomeadamente jornalistas, e o seu nome constava da lista de intérpretes." Foram estas as razões fundamentais apresentadas pelo Ministério Público pelo facto de a PJ ter constituído Robert Murat como arguido no processo sobre o desaparecimento de Madeleine McCann.
O luso-britânico foi, assim, alvo de várias suspeitas (que vieram a revelar-se infundadas) tal como o facto de a PJ ter recebido um fax de uma jornalista britânica do Sunday Mirror que denunciava "determinados comportamentos do suspeito comprometedores", conforme se pode ler no despacho de arquivamento do Ministério Público, datado de 21 de Julho, "nomeadamente por dar o seu nome sem qualquer informação sobre si, aos jornalistas, por ter relações conflituosas com várias pessoas e ter ficado preocupado quando lhe tiraram uma fotografia para aquele jornal".
Segundo ainda uma informação do serviço policial da noite do desaparecimento, incluída no processo, a PJ achou " estranha a curiosidade mostrada pelo arguido sobre esta investigação". A este facto juntou-se ainda o testemunho de Jane Tanner, uma das inglesas que acompanhavam os McCann nas férias na Praia da Luz. Tendo sido interrogada ao lado de Robert Murat, a britânica garantiu que, após as primeiras horas sobre o desaparecimento, viu um homem com uma criança ao colo a caminhar em direcção à Casa Liliana, onde morava Robert Murat.
Mais tarde - e também face às suspeitas que recaíram sobre o luso--britânico - Jane disse ter quase a certeza de que o homem que visualizou apenas por alguns segundos era mesmo Robert Murat. O depoimento da testemunha foi considerado credível nas primeiras horas e fortaleceu as suspeitas que recaíam sobre Murat. Este acabou por ser alvo de buscas a 14 de Maio de e ouvido na PJ nessa mesma madrugada, tendo negado qualquer envolvimento no desaparecimento da criança.
A falta de indícios acabou por ditar a sua libertação. No dia em que Murat é constituído arguido, nesse mesmo mês, já depois de amigos dos McCann terem referido às autoridades a sua presença nas imediações do apartamento na noite do desaparecimento de Madeleine, Kate regista no seu diário ter ficado "muito esperançada" e "excitada acerca disto."
Três semanas depois, Kate escreve que "Robert Murat continua a ser o principal suspeito". "Por boas razões", acrescenta, lamentando não haver "provas fortes". Quando três dos amigos são chamados à PJ para repetir os depoimentos na sequência de contradições sobre a presença de Murat no The Ocean Club, Kate tenta desculpar os amigos com o facto de terem sido inquiridos na presença de Murat: "O que aconteceu foi que eles foram inquiridos na sala, sentados ao lado de Murat e do seu advogado. Ele terá dito que eles estavam a mentir, o que os fez ficar bastante zangados. Começaram a pensar que ele estava sem dúvida envolvido. O que está ele a esconder?", pode ler-se no diário da mãe de Madeleine.
Murat foi ainda alvo de um telefonema anónimo de uma mulher "tentando incriminar o suspeito embora não tenham apresentado factos", explica o despacho de arquivamento.|
in dn.sapo.pt