Setenta por cento dos jovens desaparecidos em Portugal em 2008 foram do sexo feminino, revelam dados da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, que são divulgados este sábado, na inauguração da filial Norte/Centro, em S. Pedro do Sul.
A Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas (APCD), que tem como objectivo social principal ajudar as crianças desaparecidas e respectivas famílias, encontra na diferença dos géneros quanto à transição de idades a justificação para a esmagadora maioria dos desaparecimentos pertencerem ao sexo feminino.
"As pré-adolescentes e as adolescentes lidam pior com as mudanças de idade do que eles", sustenta à Agência Lusa Paulo Cristóvão, presidente da APCD, que também revela que 95% dos casos de desaparecimentos são resolvidos no máximo até 72 horas após a comunicação do desconhecimento do paradeiro.
As circunstâncias podem ser diversificadas, mas Paulo Cristóvão refere que, regra geral, os desaparecimentos resolvidos até três dias têm como motivo um namoro, as más notas escolares e os festivais de música.
Mas a regra tem excepções e o ex-inspector da Direcção Central de Combate ao Banditismo da Polícia Judiciária (PJ) aponta outros motivos, como as desavenças familiares, exemplificando com o caso de Sara Reis, 17 anos, localizada a 13 de Fevereiro, em Lisboa, depois de ter estado desaparecida um ano.
O presidente da APCD observa ainda a existência de "um apelo das questões da Internet", como a de "uma miúda de 14 anos que se deixou aliciar por um indivíduo de 34 anos, que lhe prometeu mundos e fundos, levando-a a fugir de casa para ir viver com ele".
"Uma coisa leva a outra e é evidente que estes casos têm uma componente sexual", considera Paulo Cristóvão, alertando para que não "se crie uma realidade que emane de raptar para explorar sexualmente" ou mesmo "para tráfico".
De acordo com os registos da APCD relativos ao ano passado, desapareceram um total de 90 crianças ou adolescentes, um número que "anda próximo dos verificados em 2007".
Na distribuição geográfica, 75 por cento dos desaparecimentos em 2008 ocorreu no Norte, enquanto a segunda maior incidência de casos diz respeito à Grande Lisboa com cerca de 25 por cento, pertencendo um valor residual ao Algarve e ao Alentejo, região em que se registaram taxas significativas de suicídio entre os jovens.
Apesar do dramatismo das situações, Paulo Cristóvão frisa que a situação não é alarmante se se comparar com as realidades de Espanha ou de França e Reino Unido, "mesmo tendo em conta as diferenças de proporções do território e do número populacional".
"Os espanhóis estão muito piores do que nós e no Reino Unido, na altura do desaparecimento de Madeleine McCann, no Algarve (a 03 de Maio de 2007), havia perto de 95 crianças desaparecidas, enquanto Portugal tinha somente seis por recuperar", salientou.
Paulo Cristóvão, que participa hoje numa sessão de esclarecimento subordinada ao tema "Crianças Desaparecidas e Sexualmente Exploradas", no Auditório Municipal de S. Pedro do Sul, refere a existência de "oito ou nove crianças desaparecidas em Portugal actualmente".