Produtos biológicos: regresso ao passado
Os produtos biológicos estão a cativar cada vez mais a atenção dos consumidores. São mais nutritivos? Vale a pena pagar mais por estes produtos? Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas tira-lhe todas as dúvidas.
Os produtos biológicos ocupam cada vez mais espaço nas prateleiras dos supermercados. Mas muitos serão os consumidores que desconhecem porque razão se encontram separados dos outros e porque são, normalmente, mais caros. O que os distingue dos outros produtos? Quais as vantagens e desvantgens de consumir produtos biológicos? O que distingue os alimentos biológicos dos outros mais comuns? Veja aqui as respostas a estas e outras questões.
Os alimentos biológicos são todos aqueles que provém de um modo de produção agrícola que respeita o meio ambiente e a biodiversidade, recorrendo a técnicas de produção menos agressivas do que as utilizadas na agricultura convencional. Este tipo de agricultura utiliza somente químicos naturais, contribuindo, desta forma, para a produção de alimentos potencialmente mais saudáveis, incluindo hortofrutícolas, vinhos, cereais, pão e azeite. Para que um produto seja comercializado como orgânico ou biológico dentro da União Europeia, é necessário que seja certificado em algum Estado-membro, sendo que a certificação permite a sua comercialização nos restantes países da Europa. Parecem existir aproximadamente 130 organizações credenciadas pela Comissão Europeia que actuam como certificadoras.
A nível nutricional, existe uma grande diferença?
Os resultados dos estudos efectuados que tentam comparar as características nutricionais dos alimentos biológicos face aos alimentos convencionais são contraditórios. Alguns autores afirmam que os alimentos orgânicos são mais ricos em determinados compostos, nomeadamente antioxidantes, vitaminas e minerais. No entanto, noutros estudos, não se detectam grandes diferenças nas características nutricionais dos alimentos orgânicos comparativamente aos alimentos convencionais. Convém ter presente que existe uma série de factores que podem condicionar o valor nutricional dos alimentos, tornando-se muitas vezes difícil estabelecer comparações entre os alimentos convencionais e os biológicos. Entre esses factores destacam-se a genética das plantas, clima e variações climáticas regionais, práticas agrícolas, tipo de solo, sistema de irrigação e manuseamento pós-colheita (por exemplo condições de transporte e armazenamento).
Os portugueses estão a aderir aos produtos biológicos?
De uma maneira geral, a procura dos consumidores por produtos biológicos tem vindo a aumentar. No entanto, ainda representam um nicho de mercado.
Porque razão são mais caros do que os outros?
Os produtos biológicos são mais caros porque o seu rendimento é, à partida, menor. Têm tendência a estragar-se mais rapidamente do que a fruta e os legumes tratados quimicamente, pelo que é maior a proporção rejeitada e, por isso, os custos e os preços aumentam. Como a produção é ainda algo limitada, a rede de distribuição não está exaustivamente explorada, o que também agrava os custos. Além disso, os produtos biológicos são vistos como produtos destinados a determinado tipo de população, composta, sobretudo, por pessoas informadas e preocupadas com a sua saúde e com o meio ambiente e que, normalmente, têm maior poder de compra. Por isso, o preço sobe mais um pouco. Por outro lado, os produtos biológicos tem de ser certificados, o que dá garantias ao consumidor de que determinado alimento foi produzido de acordo com as regras fixadas para a agricultura biológica, o que envolve mais custos.
Quais as mais-valias dos alimentos biológicos, tanto para as pessoas, como para a agricultura e outras actividades que produzem alimentos, e ainda para o ambiente?
A agricultura biológica é um modo de produção agrícola sustentável, baseado na actividade biológica do solo, cuja base de fertilização consiste na incorporação de matéria orgânica, excluindo o uso de adubos facilmente solúveis e evitando o recurso a produtos químicos de síntese. A agricultura biológica respeita igualmente o bem-estar animal e a relação dos animais com a terra, privilegiando estratégias preventivas na sanidade vegetal e animal e a implementação da diversidade na exploração. Assim, o modo de produção biológico procura a obtenção de alimentos de qualidade (em termos de segurança alimentar, valor nutricional e sabor), a melhoria e a preservação do ambiente, a valorização possível dos recursos locais e a dignificação do agricultor.
E a menos-valias?
A principal desvantagem dos alimentos biológicos parece ser o preço. Além disso, alguns consumidores também consideram que o aspecto dos alimentos (particularmente hortofrutícolas) não é tão atractivo quanto o dos produtos convencionais. Outros motivos que podem levar os consumidores a não optarem por alimentos biológicos é a maior dificuldade de encontrarem estes alimentos em grandes superfícies e noutros locais onde fazem as compras e a falta de tempo para se deslocarem às lojas da especialidade.
As pessoas que não consomem produtos biológicos deverão ficar preocupadas por não ingerirem os nutrientes suficientes?
Não existem evidências que permitam concluir que as características nutricionais dos alimentos biológicos são superiores às dos alimentos convencionais. Por isso, no que diz respeito ao valor nutricional, os não consumidores de alimentos biológicos não precisam de estar com receio de não estarem a ingerir os nutrientes suficientes. A melhor recomendação alimentar continua a ser uma dieta equilibrada, completa e variada, rica em fruta, hortícolas e cereais integrais, independentemente de serem de origem biológica ou resultado das práticas agrícolas convencionais.
Sónia Santos Dias
http://saude.sapo.pt/artigos/entrevistas_a_especialistas/ver.html?id=816960