Há pelo menos 63 vítimas mortais já confirmadas. E a chuva continua a cair.
O resultado causado pelas incessantes chuvadas no Rio de Janeiro e áreas próximas é aterrorizador. No estado do Rio, desde o dia 30, já houve mais de 60 mortos devido a dezenas de casas que desabaram por causa da intempérie.
O caso mais dramático ocorreu em Angra dos Reis, uma reluzante estância de turismo, onde muitos brasileiros ricos dispõem de casas de veraneio para poderem aproveitar toda a beleza do mar. Ali ocorreram 41 mortes - número que ainda pode subir, de acordo com as informações que têm sido prestadas pelas autoridades.
A terra molhada de um morro desabou sobre a luxuosa pousada Sankay, e casas adjacentes, matando 20 pessoas, a maioria das quais visitantes de alto poder aquisitivo, na região da Ilha Grande.Próximo dali, outro deslizamento matou 11 pessoas pobres, residentes numa favela. Na hora da tragédia, ninguém foi poupado. Nem pobres, nem ricos.
A força das águas, que noutras circunstâncias costumava concentrar-se apenas nas casas construídas irregularmente, sem as respectivas fundações devidamente alicerçadas, desta vez afectou todo o género de pessoas - desde as que vivem nas favelas às que se hospedam nas luxuosas pousadas junto ao mar. A água, implicável, deslocou terra e pedras, que arrasaram tudo quanto estava em baixo.
No meio da tragédia, houve alguns factos inusitados. Dois casais que alugaram uma das casas ao lado da pousada em Angra dos Reis salvaram-se porque tiveram uma discussão com os ocupa ntes de uma casa vizinha, alugada por 17 pessoas. Esses dois casais, sem imaginarem a sorte que teriam, reclamaram contra o barulho feito na casa vizinha pelos seus 17 ocupantes e decidiram abandonar o local antes da passagem do ano. Salvaram-se graças a essa decisão porque os desabamentos ocorreram naquele preciso local, na madrugada do dia 31 para o primeiro dia do ano.
A pousada Sankay fora inaugurada em 1994 e estava repleta, para a celebração da passagem de ano, de turistas brasileiros e estrangeiros, vários dos quais já haviam festejado o réveillon noutros anos na minúscula Ilha Grande, de difícil acesso, situada ao largo de Angra dos Reis.
Desde que ocorreu a tragédia tem havido uma intensa mobilização de bombeiros e da marinha, conduzindo equipas de resgate. Até um estaleiro das proximidades está a ajudar, ao ceder equipamento pesado para ser usado na retirada de entulho e na busca de novos corpos.
A cidade de Angra dos Reis cancelou a procissão marítima prevista para 1 de Janeiro, tendo ali sido decretado um luto oficial de três dias. O Presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou ajuda financeira para amenizar as perdas e o governador do Rio, Sérgio Cabral, deslocou-se ao local para prestar solidariedade.
Como os deslizamentos ocorreram de madrugada, em geral as tragédias atingiram famílias inteiras, com pais, mães e filhos. No caso da pousada de Angra, estavam lá hospedados grupos inteiros de familiares, que foram duramente atingidos.
"É uma visão de horror, uma mistura de pedras, árvores e uma série de outros objectos que cobrem várias casas", relatou aos jornalistas o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que tem acompanhado durante todo o tempo as equipas de socorro.
Fonte.
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1460712&seccao=CPLP