No mercado do Bolhão, esta quarta-feira, pouco ou nada se falava das dioxinas. Ao final da tarde soube-se que os técnicos da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar asseguraram que o consumo da carne de porco contaminada com dioxinas, detectada na Irlanda, não produz riscos para a saúde.
Para além da carne de porco, a Irlanda detectou dioxinas em três explorações de bovinos, mas nenhuma da carne foi exportada, anunciou ontem o ministro da Agricultura, Jaime Silva. Segundo a Secretaria de Estado do Comércio e Defesa do Consumidor, ao final do dia de ontem só faltava recolher 353 quilos da carne de porco importada da Irlanda, além de uma tonelada exportada para Angola e que ainda estará em trânsito.
Porém, segundo os talhantes do mercado tal não vai fazer diferença nas vendas. Porque mais que os efeitos das notícias dos últimos dias, sentem-se é as consequências da crise económica e do apertar do cinto das famílias.
Entre andaimes e obras de conservação, os comerciantes de carnes do Bolhão vão sobrevivendo, essencialmente, "por causa dos clientes que já cá vêm há 30 ou 40 anos e não nos deixam fechar", explica Vítor Ferreira, proprietário do talho e salsicharia Leandro. Apesar de ser conhecido pelos seus produtos de porco, não notou mudanças por causa das dioxinas. "Só usamos carne nacional e os clientes confiam em nós". Todavia, já não vende tanto como antigamente. Ou melhor, a lista de compras já não é a mesma: "até dia 15 vende-se lombo, febras e costoletas; depois do dia 15, é quase só ossinhos e rabos. Alguns dizem que é para os cães mas sabemos que é para eles".
Manuel Ferreira da Silva, proprietário de um talho no piso superior diz que "apesar de fazerem algumas perguntas sobre as dioxinas, os clientes compram na mesma". Verifica é que "há cada vez menos pessoas a procurar qualidade e a concorrência é tão grande que não dá para todos".
Também Alcino Sousa se queixa do mesmo. "A vida está muito má e o negócio também". Quanto às dioxinas diz que os seus fregueses não duvidam do que ele vende, mas reclama que "não há controle do que vem do estrangeiro, só há para o de cá. E vemos carne a preços baixíssimos. Eu pergunto: como é possível?"
O presidente da Federação dos Comerciantes de Carne, Jacinto Bento, disse ao JN que ainda é cedo para ver se as notícias das dioxinas produziram efeitos nas vendas, mas adianta que não há motivo para tal. "Mais de 65% da carne de porco que consumimos é nacional e quase 35% é de Espanha, portanto, as outras importações são residuais", explicou. Referiu, ainda, que por causa da crise económica muitas pessoas estão a virar-se para as carnes brancas como o porco e as aves. E mesmo assim adquirem menos. "Uma família que comprava 1,5 quilos de carne, agora compra apenas 1 quilo. Isto é muito constrangedor e está já a causar efeitos". De acordo com Jacinto Bento, no último ano, de Vila Franca de Xira ao Algarve, já fecharam 92 talhos.
O presidente da Associação de Retalhistas de Carne do Distrito do Porto, Francisco Vasconcelos, apesar de não conseguir quantificar, confirma que o mesmo se passa no Norte. "Já fecharam muitos talhos e, se não tiverem apoios, ainda vão fechar muitos mais".
IN Jornal de Noticias