A ligeira subida da natalidade ocorrida no país em 2008 é «uma tendência que não se vai manter» devido à crise económica, consideram vários especialistas.
Por ocasião do 1.º Congresso Nacional da Maternidade, que começa esta sexta-feira em Lisboa, especialistas contactados pela agência Lusa consideram que o ligeiro aumento da taxa de natalidade registado no ano passado em Portugal é «uma tendência que não vai continuar em 2009 devido à crise económica».
«Não se vai manter porque, sejam quais forem as políticas de incentivo à natalidade é preciso que, sobretudo os casais jovens tenham uma certa segurança no trabalho», disse a alta-comisária da Saúde, Maria do Céu Machado.
«Os filhos são desejados mas também programados, e não me parece que este seja um ano muito propício para ter filhos», acrescentou a pediatra.
Em Portugal, depois de em 2007 se ter registado um mínimo histórico na natalidade (a taxa atingiu pela primeira vez um saldo negativo de menos 0,01 por cento), houve um pequeno aumento em 2008.
No entanto, os especialistas contactados explicaram que a subida em 2008 não compensa as fortes quedas nos números de nascimentos que se verificaram nos anos anteriores.
Isto apesar dos incentivos à natalidade recentemente introduzidos em Portugal, como o apoio financeiro directo às grávidas, os apoios para aumentar as creches públicas e o alargamento da licença de parentalidade, sublinhou Maria do Céu Machado.
Opinião partilhada pelo presidente do Colégio de Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, que, em declarações à Lusa, sublinhou que existem «vários aspectos» ligados à vida profissional das mulheres portuguesas que reduzem a possibilidade de estas terem mais filhos, nomeadamente as carreiras e a pressão profissional.
«Os apoios à natalidade podem aliviar algumas das dificuldades, mas não há dúvida que existe uma tendência de reduzir o número de filhos ligada a outras questões», frisou Luís Graça.
Por sua vez, a presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Elza Pais, lembrou que Portugal é dos países da Europa «com maior percentagem de mulheres a trabalharem fora de casa ou a frequentarem o ensino superior».
«As mulheres desejam ter mais filhos mas não têm condições, dado que não partilham de forma igualitária as tarefas no cuidado da família com os seus parceiros», criticou a responsável.
No entender de Maria do Céu Machado, as medidas de apoio à natalidade postas em marcha pelo Governo são «bons incentivos que reflectem alguma preocupação da tutela com a baixa da natalidade, mas que por si só não vão conseguir inverter a situação».
«Deve-se apostar mais nos apoios à primeira infância (aumento das creches públicas) e garantir a segurança no emprego de jovens casais, que devem ser apoiados através de uma política de emprego especificamente destinada», defendeu.
Já para Luís Graça, uma medida importante para apoiar a natalidade seria «se o Estado assumisse na totalidade a responsabilidade nas despesas de educação a partir do segundo ou terceiro filho».
«Mas não há condições económicas para isso», lamentou o também responsável do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria.
Os especialistas contactados consideraram ainda que, apesar da importância da imigração, esta só «funcionará como um paliativo» e não resolverá o problema da natalidade em Portugal.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2007 houve um total de 101.023 partos em Portugal, sendo que 90.407 ocorreram em hospitais públicos e os restantes 10.616 no sector privado.
O número total de partos em Portugal em 2007 foi ligeiramente inferior ao registado em 2006, ano em que se contabilizaram, segundo os mesmos números do INE, um total de 104.296 partos.