«Uma professora, que tem 193 alunos a seu cargo, terá que tirar 1456 fotocópias, introduzir manualmente 17 377 registos em documentos oficiais e participar em 91 reuniões, só para se auto-avaliar».
O deputado do PSD usou esta quarta-feira, na comissão da Educação e Ciência, no Parlamento, um exemplo concreto de uma professora para explicar à ministra Maria de Lurdes Rodrigues a burocracia «infernal» que leva à desmotivação de uma classe, que rejeita o modelo de avaliação de desempenho.
A ministra da Educação pediu esta quarta-feira «desculpa aos professores por ter causado tanta desmotivação» com a avaliação, mas Lurdes Rodrigues reafirma que o processo é para continuar. Porque é «do interesse do país, das escolas e dos alunos».
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A ministra admitiu que o processo não é «fácil», mas alertou que está sempre disponível para «apoiar as escolas» e garantiu: «Este é um modelo de avaliação que não foi pensado contra os professores» e «não prejudicará um único docente neste primeiro ciclo de avaliação».
Resistimos e vencemos»
«Injusto», reafirma, era o modelo anterior: «Há coisa mais injusta do que não premiar os melhores? É injusto porque trata como diferente o que é diferente? É justo que isso seja reconhecido e que permite distinguir e premiar os melhores».
Abordando a questão da burocracia, Lurdes Rodrigues garante que o processo tem sido «ridicularizado». E fez um paralelismo com as aulas de substituição. «Também foi ridicularizado nesta câmara à exaustão. Disseram que as professoras de matemática iriam de salto alto dar uma aula de educação física. Pois bem, ao fim de um ano, não há um único problema nas nas escolas. Foi preciso que a resistíssemos. Resistimos e vencemos».
Ninguém apresentou outro modelo de avaliação
Também Jorge Pedreira, secretário de Estado, defendeu a avaliação de desempenho para garantir que o Ministério da Educação «tem no terreno um conjunto de equipas para ajudar as escolas a não complexificar o processo».
Jorge Pedreira garantiu ainda que «não há outro modelo disponível. Os senhores deputados dizem muita coisa mas não apresenta um único modelo; nem os sindicatos. O único modelo disponível existente é o do passado».
«Parece o ministro de Saddam...»
Já o PSD frisou que «a ministra já deixou de fazer parte da solução e só faz parte do problema». «Faz-me lembrar o ministro da propaganda iraquiano: dizia que estava a ganhar a guerra já os Estados Unidos derrubavam a estátua de Saddam Hussein em Bagdad», ironizou Emídio Guerreiro, lembrando a manifestação do passado sábado quando 120 mil professores vieram a Lisboa pedir a suspensão deste modelo de avaliação.
Para o social-democrata, «num prazo de apenas oito meses, [a ministra] conseguiu ter a maioria dos professores na rua e que muitos pedissem a reforma antecipada - fazem-no porque estão cansados de ser maltratados por parte do ministério».
Ao contrário, diz o deputado, seria impossível importar modelos usados na França, Finlândia, Holanda e outros países europeus, processos já testados, que não criam esta situação de conflitualidade».
Segundo o deputado do CDS-PP já 500 escolas ameaçam suspender a avaliação. «O que vai fazer se todas as escolas suspenderem de facto? Vai ser um caos», alegou deputado José Paulo Carvalho. O BE, pela deputada Cecília Honório, elevou o número para 700. Mas o que o CDS-PP quer mesmo saber é «onde está o modelo a funcionar. Diga-nos para irmos visitar essa escola».
in diario.iol.pt